Em agosto, estivemos em uma excelente degustação na SBAV (Associação Brasileira dos Amigos do Vinho), em São Paulo: a apresentação da vinícola Viu Manent, que é representada no Brasil pela importadora Hannover. O enólogo chefe da Viu Manent, Juan Pablo Lecaros, deu uma super aula sobre os vinhos chilenos e sua imensa diversidade.

Lecaros explicou, por exemplo, que os vinhos chilenos estão adotando em seus rótulos, além do nome da região em que são produzidos – Maipo, Colchagua, Limarí, entre outros – também a distância em que ficam do mar, pois isso influencia muito na temperatura e, consequentemente, nas características da uva. “Por exemplo, podemos ter o Colchagua Costa, Colchagua Entrecordilheiras (zona central) ou Colchagua Andes (mais próximo aos Andes). Esse segundo nome não é obrigatório, mas é um indicador de qualidade para que vocês possam assegurar a origem das uvas”, disse Lecaros durante a apresentação.

Juan Pablo Lecaros mostra os vinhedos da Viu Manent

Juan Pablo Lecaros mostra os vinhedos da Viu Manent

Com 80 anos de existência, a Viu Manent é pioneira na produção de Malbec no Chile, possuindo vinhedos com mais de 100 anos. É uma das vinícolas mais antigas do país e foi fundada com o casamento de Miguel Viu e Dolores Manent, dois imigrantes catalães que chegaram ao Chile. Eles comercializavam vinhos de pequenos produtores, que rotulavam com a sua marca, e depois iniciaram a produção de vinhos. Em 1993, foi a primeira bodega chilena a produzir um vinho 100% Malbec.

A direção da vinícola está na terceira geração da família, os Viu Bottini. A Viu Manent tem três vinhedos e 250 hectares de produção, todos na zona central do Chile, mais próximos à costa. Cada vinhedo tem características próprias, com tipos de solos diferentes, dos mais arenosos aos rochosos. Por conta dos cerca de 2.900 vulcões que abrangem todo o território chileno, o país apresenta de oito a dez tipos de solo, que influenciam nas características do vinho. Nos mais rochosos, a planta ganha tanta força que vai rompendo a rocha.

A bodega Viu Manent foi construída na década de 30 e foi se expandindo com o tempo. “A novidade dos últimos anos é que estamos trabalhando com barricas maiores, de 3 a 5 mil litros (as tradicionais têm 250 litros). Assim conseguimos manter a característica de evolução do vinho, mas sem tanto contato com a madeira, resultando em vinhos mais frutados”, explica Lecaros.

A degustação

Na degustação da SBAV, foram servidos sete vinhos: Viu Manent Chardonnay Estate Collection Reserva 2014, Secreto de Viu Manent Sauvignon Blanc 2014, Viu Manent Gran Reserva Cabernet Sauvignon 2012, San Carlos Malbec Single Vineyard 2010, os dois lançamentos ViBoPunta del Viento 2012 e Viñedo Centenario 2011 – e o ícone El Incidente Carménère 2010.

Começamos com o Viu Manent Chardonnay EC, bastante frutado, com aromas marcantes de abacaxi e uma cremosidade diferente, que acaricia a língua na passagem. É um vinho fácil de beber, chega a ser adocicado.

Na sequência, experimentamos o Secreto Sauvignon Blanc, produzido com uvas do vinhedo mais próximo do oceano. Isso fica muito claro na prova. Os aromas de maracujá e uma acidez pronunciada fazem par com uma certa salinidade. O mais interessante é que só fomos informados da região de produção depois de darmos nossa opinião.

A linha Secreto nasceu em 2003, para ser paralela à Gran Reserva, mas com um estilo mais moderno, trazendo o conceito de ter mais de uma variedade de uva – a uva principal com uma mescla secreta de 15%, conhecida apenas pelo enólogo. São vinhos mais jovens, aromáticos, com mais fruta e vivacidade, que ficam de sete a nove meses em barricas de carvalho. Os seis rótulos, bem diferenciados, foram criados pela artista chilena Catalina Abbott.

O Gran Reserva Cabernet Sauvignon é um vinho “vivo”. Você bebe e sente que “belisca” sua língua, nada agressivo, mas é algo que um bom Cabernet faz com você para lembrá-lo do que está bebendo.

Os vinhos Single Vineyard levam no rótulo o nome do vinhedo de origem e são exemplos da definição da região e sua variedade, o que contribui para a complexidade e personalidade de cada vinho. Corresponde a pequenas produções elaboradas com as melhores uvas, provenientes de setores específicos dos três vinhedos Viu Manent do Vale do Colchagua. Com fruta muito madura e concentrada e colheita feita a mão, os vinhos envelhecem de 14 a 18 meses em barricas francesas. Dessa linha, experimentamos um Malbec produzido a partir de vinhedos com mais de 100 anos de idade, muito estruturado e com personalidade.

Niels Bosner, da Hannover; Gil Medeiros, da SBAV; e Lecaros, da Viu Manent

Niels Bosner, da Hannover; Gil Medeiros, da SBAV; e Lecaros, da Viu Manent

 

A linha ViBo está sendo lançada agora ao Brasil. É o vinho da terceira geração da família – Viu Bottino. Cada vinho dessa linha identifica-se com um vinhedo de origem e é reflexo do terroir que representa. ViBo Punta del Viento é um vinho de estilo mediterrâneo, feito com as uvas Grenache, Mourvedre e Syrah. É o resultado da experimentação de novas variedades no vinhedo El Olivar que se adaptaram muito bem às condições climáticas do Colchagua. O que provamos estava um pouco alcoólico no início, mas isso durou pouco. Logo o vinho mostrou a elegância do corte. Muito redondo.

Já o ViBo Viñedo Centenario é um assemblage de variedades mais tradicionais, composto por Cabernet Sauvignon, Malbec e Petit Verdot. A proposta neste vinho é experimentar a versatilidade da Malbec em combinação com outras variedades – e tudo deu certo. A combinação dessas três uvas potentes resultou em um vinho simplesmente maravilhoso. Um daqueles que temos de beber novamente.

El Incidente é uma aposta da Viu Manent à Carménère, hoje considerada uva emblemática no Chile, por ter sido descoberta no país nos anos 90. O nome recorda o acidente ocorrido com o proprietário da vinícola, Jose Miguel Viu Bottini, que passeava de balão com amigos no vale do Colchagua quando o mesmo caiu em um mercado aberto no povoado de Santa Cruz, sob os olhos de muitos espectadores. O rótulo traz um balão caindo e a história está escrita na cápsula do vinho. Para nós, esse vinho foi uma grande surpresa. Esqueça as notas herbáceas, este Carménère é diferente. Na verdade foi o primeiro dessa uva que o Emanuel realmente gostou.

Podemos dizer que esta foi uma das melhores degustações que já participamos porque, além de experimentarmos o vinho, aprendemos muito sobre o Chile, a Viu Manent e sua produção de vinhos.

Lecaros, Emanuel e eu, ao final do evento

Lecaros, Emanuel e eu, ao final do evento

Fotos: Emanuel Alexandre Tavares
El Incidente Carménère 2010
  • Ao abrir a garrafa
  • Na taça
  • A prova
  • Meia hora depois
4.4

Minhas impressões

El Incidente é uma aposta da Viu Manent à Carménère, hoje considerada uva emblemática no Chile. O nome recorda o acidente ocorrido com o proprietário da vinícola, Jose Miguel Viu Bottini, que passeava de balão com amigos no vale do Colchagua quando o mesmo caiu em um mercado aberto no povoado de Santa Cruz, sob os olhos de muitos espectadores. O rótulo traz um balão caindo e a história está escrita na cápsula do vinho. Para nós, esse vinho foi uma grande surpresa. Esqueça as notas herbáceas, este Carménère é diferente. Vale muito a pena.

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