A quebra na safra de uva deste ano, que aumentou o custo da matéria-prima, aliada à elevação dos insumos e ao aumento da tributação nos vinhos, impactaram negativamente o desempenho comercial dos principais produtos vinícolas no primeiro semestre de 2016. Em praticamente todas as categorias verificou-se a subida de preços e, por consequência, o recuo nas vendas. A exceção foi o vinho fino, que vem mantendo os resultados positivos desde o ano passado, mesmo com tabelas reajustadas. No total global do setor, a comercialização dos primeiros seis meses do ano foi 4,35% menor em relação ao mesmo período de 2015.

“O setor vitivinícola não está desconectado da situação econômica nacional. Mas, comparando com outros segmentos, o recuo não foi tão drástico. Talvez, se tivéssemos conseguido reverter a elevação do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), poderíamos alcançar o mesmo resultado do ano passado”, observa o presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Dirceu Scottá. O dirigente se refere à elevação de alíquota do IPI de um valor máximo de R$ 0,73 por litro para um percentual de 10% sobre o valor de venda da garrafa, que entrou em vigor em 1º de dezembro de 2015.

A despeito de haver recuo de 5,73% no vinho de mesa, de 9,65% no espumante e de 5,85% no suco de uva pronto para consumo, o vinho fino teve alta de 9,33%. Como a importação também se apresenta positiva, em 5,09%, observa-se que o consumo da categoria no país, somado aos nacionais, nesse primeiro semestre, ampliou em 6%, representando 2,5 milhões de litros a mais ante o mesmo período do ano passado. Em contrapartida, a retração na importação de espumantes chegou a 30%. Somando com o resultado dos rótulos nacionais, a categoria encolheu em 14,45%, representando 942.263 litros.

Para o setor, dois fatores contribuíram para o desempenho menor dos espumantes. O primeiro foi a antecipação de compras pelo mercado ainda no final de 2015, para evitar a aquisição de produtos com valores onerados pela alíquota maior de IPI. O segundo foi o frio mais intenso verificado esse ano, que impulsionou o consumo de vinhos tranquilos em detrimento dos espumantes. A venda de vinhos finos tintos, por exemplo, cresceu 13,5%. O setor, entretanto, avalia que poderá ocorrer retomada das vendas nos próximos meses.

“Como o grande volume de comercialização se verifica no segundo semestre, há condições de reverter esse desempenho”, acredita o vice-presidente do Ibravin, Oscar Ló.

A mesma previsão não deve se verificar para o vinho de mesa e para o suco, que devem chegar ao final do ano com baixa nas vendas. “O vinho de mesa tem um público-consumidor que é bastante sensível a preço e também houve uma redução na oferta disponível no mercado. O suco de uva 100% também deve ter recuo nas vendas em comparação com o que vinha apresentando nos últimos anos. Mas na próxima safra, havendo uma boa colheita, essa situação pode se estabilizar”, observa Ló.

Para a segunda metade do ano, Scottá explica que a reversão da medida que elevou o imposto sobre os vinhos será crucial para o setor. “Se conseguirmos negociar uma alíquota menor para o IPI, talvez consigamos recuperar uma percentagem do que caiu no vinho de mesa e ter um resultado ainda melhor no fino, pois ele tem impacto direto no preço. Mas ainda é cedo para qualquer prognóstico”, resume o presidente.

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