Desde que passamos a frequentar a SBAV-SP, já tivemos a oportunidade de participar de excelentes eventos, em que palestras com muita informação e cultura são relacionadas a vinhos de determinadas regiões, castas e produtores. Desta vez, soubemos que haveria um workshop com um dos maiores conhecedores de vinhos do Brasil e do mundo, Carlos Cabral, que também é um dos fundadores da Associação, e fomos preparados para uma verdadeira aula de história. E foi isso o que aconteceu!

O objetivo da SBAV, de acordo com o próprio Cabral, é difundir a cultura do vinho e contribuir com o produtor nacional. Fundada em 1980, no início a Associação teve dificuldades em conseguir apoio. Em um período em que o vinho brasileiro ainda era consideravelmente de baixa qualidade, o monopólio de grandes produtoras e o mercado fechado a importações dificultavam o trabalho de quem quisesse se aventurar nesse mercado, seja como produtor, vendedor ou importador. No entanto, 36 anos depois, este cenário conseguiu evoluir e o país hoje se posiciona de forma muito diferente.

SBAV - Workshop Carlos CabralUm exemplo é o mercado de espumantes. Até pouco tempo, esses vinhos eram consumidos no Brasil apenas como forma de comemoração, em ocasiões especiais. A idéia de se abrir uma garrafa de vinho apenas para degustar era considerada absurda pela maioria e o som de uma rolha sendo sacada de uma garrafa era sempre seguido da pergunta: “O que estamos comemorando?”.

Hoje isso mudou. O mercado de vinho brasileiro cresceu e criou-se um segmento de entendedores e apreciadores que buscam partilhar e adquirir cada vez mais conhecimento sobre essa cultura. Como Cabral relatou, isso pode ser observado em seu trabalho como diretor e agora consultor de vinhos do Grupo Pão de Açúcar, em que ele busca educar sua equipe para instruir os clientes sobre como escolher um bom vinho para incentivar o surgimento de novos apreciadores da bebida. “Já formamos mais de 300 atendentes de vinho no Grupo, dos quais 120 atualmente trabalham como consultores em outras empresas do mercado”, conta.

É uma dinâmica de ação e reação, pois ao educar as pessoas e incentivar a cultura do vinho, a SBAV contribui para o surgimento de formadores de opinião, de novos produtores e potenciais importadores, promovendo a produção nacional e acelerando a economia no setor. E tudo isso é apenas o começo.

Degustando os vinhos brasileiros

A degustação dos vinhos foi norteada pelo contexto da história do vinho brasileiro contada por Carlos Cabral. Mas aqui vamos abordar o que achamos de cada um dos vinhos, deixando o contexto histórico para outro post, já que essa história é o tema do nosso evento da Confraria no mês de dezembro e vamos falar muito sobre isso nas próximas semanas.

SBAV - Workshop Carlos Cabral - Casa Perini Brut Edição Especial 18Os espumantes são hoje a cara do Brasil e ganham notoriedade mesmo fora do nosso país. Enquanto ouvíamos os relatos de Cabral, começamos a degustação por três excelentes exemplares.

O primeiro foi o Brut Edição 18 Especial da Casa Perini, um espumante com cor palha clara, muito brilhante e de perlage farta. Um vinho que chama a atenção. Os aromas têm toques florais e frutados e um o paladar ganha um frescor intenso.

 

SBAV - Workshop Carlos Cabral - Adolfo Lona BrutNa sequência recebemos o Brut Adolfo Lona, um espumante mais envelhecido, com um tom dourado e uma acidez e textura mais presentes, mais fortes. O aroma deixa evidente sua fermentação, trazendo notas de levedura, lembrando um pouco o pão tostado.

Uma curiosidade: Adolfo Lona é argentino, e chegou ao Brasil em 1973, para trabalhar na Bacardi-Martini. Desde 2004, fundou sua própria vinícola, em Garibaldi (RS), especializando-se em espumantes, produzidos de forma artesanal e em pequenas quantidades.

SBAV - Workshop Carlos Cabral - Fausto Brut Rosé PizzatoO terceiro espumante da noite foi o Fausto Brut Rosé, produzido pela Pizzato a partir da uva Merlot. Esse vinho nos surpreendeu pela cor rosa brilhante incrível, muito bonito na taça, que chama a atenção de qualquer um.  A perlage extremamente farta chegou a fazer um pouco mais de espuma do que estamos acostumados. Possui um aroma de frutas vermelhas, em especial de cereja, e toques de frutas tropicais e muito frescor. É refrescante sem ser doce, delicioso para um dia quente.

SBAV - Workshop Carlos Cabral - Aurora Chardonnay Pinto Bandeira

Passamos para os brancos e o primeiro deles foi o Aurora Pinto Bandeira Chardonnay 2015, um vinho que já tem indicação de origem, algo ainda novo no Brasil.

Com um tom amarelo claro, aromas típicos frutado e floral e um leve toque de madeira, proporcionado pela passagem de três meses em barrica de carvalho. É um vinho interessante, com equilíbrio entre frescura e cremosidade, daqueles bons para tomar com amigos, acompanhado de uma boa tábua de queijos.

SBAV - Workshop Carlos Cabral - Quinta do Seival Alvarinho MioloA seguir, uma casta rara no Brasil, no Quinta do Seival Alvarinho, produzido pela Miolo a partir de vinhedos próprios na Campanha Gaúcha. A uva Alvarinho é uma grande casta portuguesa, considerada um ícone quando falamos em vinhos verdes.

Possui grande acidez, um pouco reduzida nessa produção nacional. Os aromas são intensos, reforçados pela passagem de 10 meses em barricas de carvalho. É um vinho agradável e com uma mineralidade raramente encontrada na América Latina, mas ainda muito jovem para ser considerado um grande vinho, pois está somente na terceira safra.

SBAV - Workshop Carlos Cabral - Aurora Millésime Cabernet SauvignonDando continuidade à verdadeira aula promovida por Carlos Cabral, degustamos cinco vinhos tintos, começando com o Aurora Millésime Cabernet Sauvignon 2012.

Na taça ele possui uma cor densa e brilhante. Os aromas frutados denotam um vinho ainda jovem, apesar de ser um 2012. No paladar apresenta um toque de madeira, resultado dos 12 meses de passagem por barricas de carvalho francês e americano, demonstrando que possui bom potencial de guarda e ainda pode envelhecer mais para acentuar sabor e aroma.

SBAV - Workshop Carlos Cabral - Bueno Paralelo 31O segundo tinto da noite foi o Bueno Paralelo 31 2013, um corte tipicamente bordalês, de Cabernet Sauvignon, Merlot e Petit Verdot, da Bueno Wines, vinícola de propriedade do apresentador Galvão Bueno. O Paralelo 31, na Campanha Gaúcha, é o ponto que une os países do Novo Mundo.

Denso na taça e com boa capacidade de guarda – passa 12 meses em barricas de carvalho francês –, o vinho apresenta aromas de frutas maduras e um toque de frescor que, associados a uma acidez interessante, o tornam um vinho bastante gastronômico.

SBAV - Workshop Carlos Cabral - Perini Qu4tro 2009Logo depois provamos o Perini Qu4tro 2009, também da Casa Perini, um corte ousado de Ancellotta e Tannat, duas uvas com estruturas e personalidades muito fortes, que contrastam com a elegância da Merlot e Cabernet Sauvignon. É um dos vinhos mais premium da Perini, elaborado apenas em safras especiais, e com edição limitada.

Possui uma coloração forte, de jabuticaba, e aroma defumado, que lembra café, chocolate amargo e especiarias. No paladar apresenta taninos  marcantes com uma  surpreendente maciez, retrogosto prolongado e persistente. Um dos melhores vinhos da noite.

SBAV - Workshop Carlos Cabral - Vinhas Velhas Tannat Almadén

O próximo vinho foi o Vinhas Velhas Tannat 2015, da antiga Almadén, comprada pela Miolo. Esse vinho tem uma história interessante. Quando a Miolo comprou a Almadén, os vinhedos antigos iam ser derrubados, pois quanto mais velha a videira, menor a sua produtividade (mas melhor o vinho!). Resolveram preservar a área, que fica na Campanha Gaúcha, de onde surgiu esse vinho.

Muito jovem, se apresentou frutado e demandando guarda. Com certeza estará melhor daqui a quatro ou cinco anos.

SBAV - Workshop Carlos Cabral - Fausto Tannat PizzatoPara encerrar, o último vinho que degustamos foi o Fausto Tannat 2014, também da Pizzato. Um vinho redondo, equilibrado e com coloração forte, com um tanino perfeito e que surpreende. Isso mostra que a qualidade do vinho brasileiro vem crescendo cada vez mais, algo incrivelmente promissor.

Fechando sua aula, Cabral nos deu um conselho digno de reflexão: temos de consumir mais o vinho brasileiro e realizar críticas sobre ele, incentivar a produção nacional e buscar melhorá-la. Precisamos quebrar os paradigmas de que “tudo o que vem de fora é bom e o que é de dentro é ruim” e passar a enxergar as oportunidades que temos em nosso próprio país. Só assim conseguiremos continuar evoluindo, seguindo em frente e nos tornando cada vez melhores naquilo que fazemos.

Nosso próximo evento da Confraria, de 9 a 11 de dezembro, é um convite a isso. Vamos beber vinhos brasileiros, e compará-los com os portugueses? Logo teremos mais informações. Fique com a gente!

Colaboração: Pietro Coelho

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